I punti luminosi

 

Carlos Heitor Cony, na Folha, em crônica intitulada “vergonha na cara”, referindo-se à derrota neste ano da seleção brasileira para a Argentina por três a zero, afirmou que faltou ao nosso time algo que Esra Proud referia-se como “punti luminosi”. Não foi a primeira vez em que Cony referiu-se a esses pontos luminosos. Quanto da morte de Glauber em 1981 Cony afirmou, em artigo publicado nem sei mais onde, que a obra de nosso cineasta era constituída de pontos luminosos. Desse conceito de Pround expresso por Cony é que surgiu-me a idéia dessa crônica.

Estamos acostumados no Brasil a termos seleções de futebol fortes, constituídas por verdadeiros craques da bola, mas o nosso selecionado têm feito a diferença quando além desses craques temos pontos luminosos. Garrincha, Pelé, Tostão, Romário, Kaká... Deixemos a seleção, ocorre-me exemplo mais atual: o Palmeiras de 2008. Um baita time, com certeza, no entanto excetuando-se Marcos onde estão os pontos luminosos? Foi-se Valdívia, não à toa chamado mago e o Palmeiras ficou apenas com bons craques, mas sem chances de ser campeão. Ao contrário o São Paulo, começou o campeonato brasileiro com um time forte, mas só atingiu a ponta da tabela e sagrou-se campeão quando algumas estrelas começaram a brilhar dentro da constelação: Rogério, Dagoberto, Hernani, Borges...

Deixando os chavões futebolísticos e tomando contextos artísticos ou literários, verificaremos também que dentro de cada época em que se constituíram as Escolas Artísticas existiram os pontos luminosos numa plêiade de escritores ou artistas geniais. Dentro das próprias Academias, onde reinam absolutos os Imortais, vivos ou mortos, teremos os destaques, os pontos luminosos.

Nas próprias obras de cada artista surgem esses pontos: o sorriso enigmático da Monalisa, de Leonardo da Vince, A Divina Comédia, de Dante, o olhar oblíquo da Capitu de Machado de Assis, Guernica de Picasso, e vai por aí afora. Confesso que havia elaborado uma lista maior, mas apaguei-a ao chegar em Chico Buarque e encontrar dificuldade em separar de sua luminosa obra os seus punti luminosi.

Mesmo no céu, local ideal para se encontrar Punti Luminosi verificamos que uns são mais luminosos que outros. Da mesma forma nas empresas, na administração pública, nas câmaras de vereadores, nas universidades, nas diferentes categorias profissionais, no seio das famílias e em nossas próprias cidades o normal é termos pontos luminosos: as equipes sejam de excelência ou de iniciação assim como as constelações austrais têm lá as suas grandezas.

Falando-se em equipe eis a questão que desejo formular: será possível a constituição de uma equipe homogênea, seja para montar um secretariado em um administração pública, ou um time de futebol?

A minha resposta é não. Não é possível a homogeneidade e até mesmo o consenso torna-se cada vez mais difícil.

A homogeneidade é impossível porque as equipes não têm uma origem comum e o consenso torna-se difícil por vivermos em um século antidogmático.

Que fazer então para a montagem de um time de futebol ou em relação à administração pública?

No futebol estou certo de que um dos punti luminosi deve ser o técnico, mas não basta, há que se ter outros pontos em campo, quanto mais, melhor, no entanto o capitão do time deve ser um líder e, para tal tem que ser bom de bola, bom de cuca e bom de voz.

Na administração pública os punti luminosi devem ser, em primeiro lugar, o prefeito, o governador, ou o presidente, conforme o caso. Se essas autoridades não forem pontos luminosos, se não forem líderes de suas equipes, então as coisas irão de mal a pior: de duas uma, ou tornam-se figuras autoritárias, centralizadoras que além de mandarem prender, atirar, capar, perdem a oportunidade de receber contribuições muitas vezes preciosas de seus colaboradores que se calam e tornam-se cumpridores de suas tarefas cotidianas, ou, na segunda hipótese, tornam-se fantoches nas mãos de um secretariado ou ministério que se desorganiza e não consegue dar rumo à administração por mais capacidade que isoladamente cada um possa ter.

Se eu fosse um técnico de futebol o capitão do time não seria nem o goleiro e nem o centro-avante, eu buscaria contratar um jogador de meio de campo que reunisse as qualidades necessárias. Do meio de campo ele se comunicaria com facilidade tanto com a defesa quanto com o ataque. De forma alguma, no entanto, eu me descuidaria de qualquer setor. De que me adiantaria um ponto luminoso no meio de campo se o goleiro fosse um frangueiro e o centro-avante um desengonçado pé de chumbo?

E você, caro leitor, se fosse o técnico ou o administrador, escolheria alguns punti luminosi? Estou certo que sim. Então você e eu não podemos nos esquecer de algo muito importante. O ponto luminoso verdadeiro não ofusca com a sua luz o restante da equipe. É sábio o suficiente para ser humilde.

 

 

as suas críticas serão bem vindas: biasotto@biasotto.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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