Política de combate às drogas

 

É desolador saber que adolescentes com uma vida inteira para desfrutar chegam a bater nos próprios pais, a roubar e a matar, para conseguir drogas. Razões diversas levam ao vício, até mesmo por uma propensão genética, mas principalmente por influência de amigos usuários ou de inescrupulosos traficantes. Seja por qual motivo for a verdade é que o uso das drogas está assustando a sociedade e as notícias de que carregamentos inteiros, com milhares de quilos são apreendidos, ao invés de confortar amedronta ainda mais, pois quando se pega dois ou três imagina-se que passam muitos, tanto é que ainda não se viu em nosso país as pessoas procurarem centros de atendimento por estarem com falta de produto. Ou seja, se houvesse um controle absoluto do tráfico de drogas, com certeza as crises de abstinência lotariam hospitais e/ou cadeias.

Nosso país ao longo de sua história tem usado o modelo da repressão no combate ao uso de drogas. Por via de consequência as cadeias estão superlotadas, primeiro porque aos traficantes são impostas duras penas, segundo porque as drogas (seja pelo uso ou tráfico) levam ao crime. Não adianta: o que Raul Seixas cantou dando um recado à ditadura militar ajusta-se ao que os traficantes podem cantar para a polícia: “eu sou a mosca que pousou na sua sopa (...) e não adianta me dedetizar, pois você mata uma e vem outra em meu lugar”.

Triste, mas é verdade. Estamos seguindo o mesmo critério dos Estados Unidos e outros países que tentam conter o tráfico reprimindo-o, aliás por orientação da ONU, desde 1961. A repressão não deu resultado. Reprimir não basta. O tráfico é um empreendimento demasiadamente lucrativo, arriscado é verdade, mas aos gananciosos e aos despossuídos não passa de uma oportunidade. Por sua vez não faltam consumidores. Os usuários sentem um prazer tão grande que já não mais lhes importa viver ou morrer. Querem sentir o êxtase, não sabem avaliar que esses momentos de verdadeira sublimação vão levá-los a um estado de miserabilidade infinda. 

Com o aumento da população consumidora a sociedade divide-se. Os que defendem a repressão não deixam de ter bons argumentos, mas também não faltam argumentos também aos que criticam essa política e defendem a liberação das drogas. Os dados alarmam. Nos canaviais paulista o crack causou danos irreversíveis. Nas reservas indígenas não é diferente. Nas metrópoles os usuários são tantos que já se concentram em determinados locais e a polícia passa, olha e não tem muito o que fazer. Já não existe distinção de classe social. Ricos e pobres consomem-se consumindo.

A legalização da maconha, por exemplo, por um lado há os que se manifestam contrários porque ela levaria ao uso de drogas mais pesadas, por outro lado, ao redor do Mundo, organizam-se passeatas para a liberação do uso da maconha, argumentando-se que vários cientistas já chegaram à conclusão de que o uso dessa erva faz muito menos mal ao corpo do que as consequências de seu tráfico ilegal.

Recentemente o Uruguai legalizou o uso da maconha e o seu presidente João Alberto Mujica disse que preferia que a maconha não existisse, mas defendeu a legalização por entender que o tráfico é muito pior do que a regulamentação. E foi além, criticando abertamente os ex-presidentes do Chile e do Brasil: “ Ex-presidentes como Ricardo Lagos (Chile) e FHC defendem (a legalização), mas o curioso é que fazem isso quando não são mais presidentes. Por que não defenderam quando eram presidentes?".

A verdade é que nos encontramos diante de uma encruzilhada e qualquer presidente que enfrentasse essa polêmica sofreria sério desgaste político, além de que a máquina repressiva que se organizou no Mundo para combater o tráfico é muito grande e poderosa. Por outro lado é público e notório que a repressão não conteve o consumo.

A trilha a ser seguida é difícil. Primeiro precisaríamos contar com uma mudança de mentalidade para poder aprovar Leis que regulamentassem o uso das drogas, segundo haveríamos de desmontar a máquina repressiva e substituí-la por uma outra máquina, composta por equipes em clínicas e hospitais que pudessem ministrar as doses certas aos usuários cadastrados sem que eles precisassem roubar ou matar para conseguir a obtenção do produto. Particularmente, embora atrasado, defendo essa última hipótese.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br