Amor, simplesmente amor

Postada em 22 de abril de 2020, dia fo falecimento de tio Jayme

Perdoem-me avós maternos e paternos que juntos viveram mais de sessenta nos, perdoem-me meus pais e mais quatro tios que também completaram sessenta anos de união conjugal. Desculpem-me os trovadores, Romeu e Julieta, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, mas jamais conheci um amor tão intenso, sublime e duradouro amor vivido pelos meus queridos tios Claudete e Jayme. Amor de infância, de adolescência, platônico e conjugal. Tia Dete morreu prematuramente, tia Jayme sonhava em encontra-la no Céu. Hoje, 22 de abril de 2020, dia do falecimento de tio Jayme devem ter se encontrado, senão a Justiça Divina será tão duvidosa quanto a Justiça terrena.

Tia Claudete, quanto criança morava nas Três Barras, distrito de Borborema, há uns três ou quatro quilômetros da Usina do Ribeirão dos Porcos, onde tio Jayme Morava com os seus pais, sendo que o seu era o gerente da Usina. Lá tinha luz elétrica e muita solidariedade, os primeiros cortes de meu cabelo foram feitos pelo compadre Andrade, o pai de tio Jayme. Lá em sua casa tinha um rádio. Certa tarde a minha família foi para lá ouvir notícias e houve um acontecimento ímpar, um enxame ou seria uma piracema de besouros, chamados besouros de bosta de vaca, daqueles que desovam sob a terra e que, depois de dez anos, nascem e, novamente, se reproduzem. Quatro ou cinco anos atrás assiste uma segunda onda desses besouros, estávamos no sítio e foi uma coisa impressionante, eles batiam nas portas e janelas e morriam aos milhares. Catava-se besouros com baldes de vinte litros.

Seu Andrade, o pai do tio Jayme, me lembro, pôs um pano no espelho porque disse ele que não poderia olhar logo depois do almoço, enquanto ele cortava o meu cabelo. Grande homem, bom administrador da usina, sempre ao lado de sua esposa.

As crianças, tia Dete e tio Jayme, estudavam em Borborema e já se amavam. Que amor era aquele naqueles tempos? Simplesmente platônico, lindo, puro, inimaginável nos dias atuais.

Os destinos os separaram. Tia Claudete foi para um colégio de freiras em Taquaritinga, por insistência de minha mãe que projetava em sua irmã caçula o que não pudera fazer em Jaú, onde concluiu a quarta séria e teve que mudar-se para o sítio por recomendação média em relação à vó Antonia.

Ah! mas eles se correspondiam, o amor constrói pontes. As cartas do tio eram endereçadas a uma amiga da tia em semi-internato e por esse mesmo mecanismo eram respondidas ao tio Jayme. Quando havia algum jogo de quadra aberto ao público lá estava o tio Jayme, sabe-se lá se tinham espaço para um beijo, um abraço, mas se viam, se olhavam, se asseguravam para o futuro. Naqueles tempos as mulheres preservavam a virgindade, os homens respeitavam as suas namoradas e, muitas vezes, frequentavam a zona do meretrício. Não possa dizer se esse era o comportamento do tio, mas posso asseverar que tia Dete se preservou.

Coloquemos as nossas botas de sete léguas. A família Secanha morava em Itápolis. Tio Jayme ia namorar a tia lá. Mas nada era fácil, a família de meus avós maternos era muito fechada, tanto é que dos cinco irmãos somente minha mãe e a tia Dete se casaram. E não sem ressalvas, ou melhor, não sem que tivessem o sentimento de estavam perdendo as filhas e não ganhando filhos.

Duas situações me vêm à lembrança nesse namoro. Na frente da casa de meus avós em Itápolis tinha um banco de madeira, onde pelo menos um vez na vida foi usado pela tia Dete e o tio Jayme para o namoro após o cinema e o meu irmão fez uma “armadilha” para que o banco caísse quando eles se sentassem. Não sei no que deu. Outra história da qual participei, inocentemente, foi quando os namorados foram sentarem-se em um quiosque que havia no pátio da Santa Casa de Itápolis. Adivinham que inocentemente estava sentado ao lado: eu.

O casamento foi debaixo de uma enorme parreira de uva que havia na casa de meus avós maternos. Muitos dos queridos amigos do tio estavam lá. E muito chopp: primeira bateria, vira-vira, vira, virou, segunda bateria, vira-vira vira.... e vai que vai. Eu, com os meus catorze anos consegui levar uma moça que a tia Alcione, irmão do tio Jayme, tinha levado para a festa, para debaixo de um poste defronte a casa. A menina, hoje entendo, estava esperando ao menos um abraço e um beijo, e eu, um beato, pedi que me desse o seu endereço para escrever-lhe.

Ah! Esse meu tio. Não acredito muito em heróis, mas se houvessem um seria ele. Perdeu os país ainda quando tinha dezessete anos. Cuidou das irmãs. Jamais desistiu de estudar. Tinha o conhecimento de um engenheiro eletricista, ou maior, pela prática que adquiriu desde que foi almoxarife de uma empresa de energia elétrica, até chegar a ser o seu gerente geral.

Em muitas de minhas crônicas contei histórias desse tio.  Talvez quando a dor pelo seu falecimento no dia de hoje passar, ainda, com menos emoção, escreverei ainda mais sobre ele.

Descanse em país, tio, pai, amigo. E, repito, o meu maior desejo é que esteja com o grande, incomensurável amor de sua vida.

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